tag:blogger.com,1999:blog-171112092024-03-14T02:26:05.647+00:00cata ventusum catavento a girar a girar a girar...cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.comBlogger73125tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-9227909075312177982012-02-19T15:56:00.000+00:002012-02-19T15:58:00.068+00:00só mente só<p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-weight: normal; font-style: normal; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt; line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS"">sábado. lá fora o silêncio da noite, lá fora uma noite como outra qualquer. </span><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; ">senta-se, uma vez mais, ao computador para escrever. as pontas dos dedos deslizam pelo teclado, mais depressa que o pensamento. as palavras sempre souberam olhá-lo por dentro e por fora. condenado a escrever, condenado a saber a saber mais e mais, alguma coisa quer fazê-lo acreditar que o conhecimento é a sua única forma de sobreviver. </span><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; ">está assim há dias, anos, não sabe já determinar quanto tempo, o tempo perdeu-se no tempo virtual, só as páginas contam. a ideia de fim.</span></p> <p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-weight: normal; font-style: normal; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt; line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span><i style="font-size: 100%; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt;line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS"">as ideias assaltam-me, fragmentadas e dispersas. </span></i><i style="font-size: 100%; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt;line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS"">há tecidos espalhados em vasos lá fora onde as plantas um dia tentaram crescer. as flores plantadas morrerram, sobrevivem apenas ervas daninhas que se apoderam de um espaço.b</span></i><i style="font-size: 100%; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt;line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS"">iscoitos. dias-de-sol. dias-de-chuva. lareira acesa. viagens em línguas incompreensíveis. memórias. sorrisos. rotinas. domingo. ideias. amanhã. futuro. o amor.</span></i></p> <p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-weight: normal; font-style: normal; line-height: 150%; "><i><span style="font-size:10.0pt;line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span></i><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; ">sabe que não poderia ser diferente. deixou a imaginação voar e conduzi-lo por caminhos agora tão impossíveis. chora. o momento é tão insustentável como ele próprio. pergunta-se o que o mantém ali. que teias o mantêm no caminho que queria não ter escolhido. quis ousar a diferença, a liberdade de ser ele próprio.</span></p> <p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-weight: normal; font-style: normal; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt; line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span><i style="font-size: 100%; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt;line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS"">um dia acreditei contigo que iria ser diferente. que um projecto seria um acontecimento, que lutaríamos juntos até ao fim. estou só. a noite adensa-se e o vazio é uma espécie de sanguessuga. está frio e não sei resolver o impasse. porque desejei tanto? porque desejei um dia?</span></i></p> <p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-weight: normal; font-style: normal; line-height: 150%; "><span style="font-size:10.0pt; line-height:150%;font-family:"Trebuchet MS""><o:p> </o:p></span><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; ">o ecrã espera por mais uma letra, um ponto, um capítulo encerrado e concluído. levanta-se e sai. sem esperança, sem palavras, sem ideias. só assim. </span><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; "> </span></p> <p class="MsoNormal" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-weight: normal; font-style: normal; line-height: 150%; "><b style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; ">onda sonora:</b><b style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; "> </b><span style="font-family: 'Trebuchet MS'; font-size: 10pt; line-height: 150%; ">primavera – the gift</span></p>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-7782139911089187862011-05-16T20:52:00.000+01:002011-05-16T20:56:57.533+01:00uma questão de amor<span style="font-family:trebuchet ms;font-size:100%;">fico esperando um fim feliz<br />já com sorriso preparado<br />surpreendes-me de novo,<br />contador de histórias<br />no final<br />os teus lábios perguntam<br />porquês de mim<br />o meu abraço responde<br />que é apenas<br />uma questão de amor. </span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-30780706476210185112011-05-04T17:04:00.002+01:002011-05-04T17:10:25.541+01:00o desamor<p style="LINE-HEIGHT: 150%; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 150%; FONT-FAMILY: 'Trebuchet MS'; FONT-SIZE: 10pt">tem aquele amargo na boca, aquela náusea insinuada. dentro de segundos entrará no modo <i style="mso-bidi-font-style: normal">caos</i>: não saberá onde ir, não saberá como apresentar a sua face, não saberá como entoar as palavras, tornar-se-á maquinal. nada lhe poderá ser apontado. está agora num vazio apático e colossal. </span></p><br /><p style="LINE-HEIGHT: 150%; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 150%; FONT-FAMILY: 'Trebuchet MS'; FONT-SIZE: 10pt"></p></span><br /><p style="LINE-HEIGHT: 150%; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 150%; FONT-FAMILY: 'Trebuchet MS'; FONT-SIZE: 10pt">prossegue através do cinzento dos prédios fugindo daquela que é a sua natureza, simples, pura, romântica, cheia de vida. o fumo sufoca-a. o ruído ensurdece-a. a língua enrola-se para a emudecer. </span></p><br /><p style="LINE-HEIGHT: 150%; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 150%; FONT-FAMILY: 'Trebuchet MS'; FONT-SIZE: 10pt"><?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></p><br /><p style="LINE-HEIGHT: 150%; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="LINE-HEIGHT: 150%; FONT-FAMILY: 'Trebuchet MS'; FONT-SIZE: 10pt">tenta agora resistir, vá, resiste. a época dourada e cintilante tem o seu fim, não sabias? ninguém pode viver nessa felicidadezinha insuportável. és uma farsa de vontade e de sonhos. surpreende-me como ainda te sobra uma réstia de crença, essa fé que tens de que amanhã serás. irrita-me essa tua esperança cega. quero agora que experimentes a distância, a amargura, a tristeza profunda. alimenta-te dessa revolta. enche-te de desamor. amanhã falaremos e tudo te será óbvio. finalmente saborearei a tua derrota e provarei a tua vulgaridade. <o:p></o:p></span></p><span style="LINE-HEIGHT: 150%; FONT-FAMILY: 'Trebuchet MS'; FONT-SIZE: 10pt"><br /><p style="LINE-HEIGHT: 150%; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><o:p></o:p></span></p>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-19601418574544493412010-03-12T18:45:00.000+00:002010-03-12T18:46:38.831+00:00ainda há barcos no rio<span style="font-family:trebuchet ms;">o sol passa pelas frestas das tábuas de madeira, da barcaça modesta que lhe foi deixada. os espaços cada vez maiores deixam ver a luz do sol no verão, enquanto ele se deixa dormir, ao sabor do calor e da preguiça. no inverno, a água entra de mansinho e não os deixa afastar da costa. tão jovem e sonhava já com os tempos d’outrora, em que o peixe enchia as redes, nessa altura o cais era outra história. fazia-se lota em certos dias cheio de gente a vender e a comprar, parecia dia de festa. e a vida lá trazia de vez em quando uma guloseima.<br />aprendeu a lidar o mar, como quem domina toiro enraivecido. as mãos arranham como esfregão e não desdizem as tormentas que o acometem. a vida cada vez mais dura e as redes vazias, lá lhe trazem um peixito miúdo de quando em quando.<br />deixa-se ficar a admirar o rio e a pensar como hoje gostava de ter sido diferente. ido à escola, essas coisas… nas ruas chamam-lhe o filósofo. filósofo de mudez trazida pela água e pelos pensamentos que nunca soube ler e escrever e agora ainda que novo está velho para essas coisas. os miúdos gritam-lhe “eeeeh, ó velho, sai daqui?”, “oo, não trabalhas?” – ele até gostava de ter tido um filho. a olinda foi-se embora, à procura doutra vida, vida que é vida é nossa não é do mar, dizia ela. logo ela que era tão bonita. gosta de fechar os olhos para lhe lembrar o rosto e o peito e as ancas redondas que gostava de puxar contra ele, sim que ele também já foi Homem… </span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-81031144068064701162009-10-31T17:26:00.002+00:002009-10-31T17:30:09.634+00:00dia obtuso<span style="font-family:trebuchet ms;">fiquei à espera que regressasses desse dia em que escolheste a metamorfose.<br />pensei que hoje te encontraria para partirmos.<br />à porta os teus cadernos de palavras esquizofrénicas escritas no auge dos teus delírios (nesses teus momentos únicos de criação e destruição).<br />dentro da casa o vazio frio de quando tudo se esvai sem que haja tempo. o nada.<br />no quarto do fundo estavas tu, num mutismo doloroso, de olhar mortificado, vazia como nunca te concebi. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">deixei-te assim no teu silêncio e parti só. </span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-48778325398627832302009-10-12T18:38:00.002+01:002009-10-12T18:41:59.291+01:00a cidade<div align="justify"><span style="font-family:trebuchet ms;">é difícil a cidade. os anos passaram e a incredulidade ampliou-se até ao inimaginável. sente-se deslocado daquele mundo em que está mas por contingências das suas responsabilidades de vida adulta já não mais partilha.<br />os transportes públicos hoje estão mais livres, mesmo assim as pessoas insistem em encolher-se no seu canto (talvez o hábito quotidiano) e que mentalmente agradecem por não ser hora de ponta e por poderem ir sentadas e não ter de tocar nos apoios onde muito eventualmente estará uma bactéria que hipoteticamente será a causadora de uma gripe qualquer; agradecem também decerto pela fraca afluência de gente não lhes trazer o cheiro mal cuidado no final de um dia de trabalho que as faz respirar pela boca, aliás a pseudo-gripe até que vem a calhar e assim se pode usar comodamente uma máscara sobre o nariz sem levantar suspeita ao vizinho do lado. mas o espaço traz inevitavelmente a voz do mendigo (não se atreveria numa outra ocasião), vale tudo pela esmolinha, esquece de guardar o seu telemóvel na mala para que não surjam suspeitas e o copo vai vazio, e a desconfiança cresce. sai numa estação que tão bem conhece mas todas as ruas se modificaram.<br />os cheiros impuros e poluídos provocam-lhe ardor nos olhos e comichão no nariz. a visão turva pelas lágrimas torna-lhe difícil identificar o sítio para onde pretende ir. as pessoas apressadas, riem alto e parecem felizes. (a pressa que tem, partilha-a com a cidade, foi algo que nunca o deixou desde a sua primeira incursão pela vida citadina. instalou-se-lhe a pressa de chegar, sempre lhe falta o tempo para o que gostaria de ter feito ontem.) os divertimentos antigos pouco lhe dizem, não sabe das exposições ou dos filmes que estão no cinema, não conhece o último videoclip da banda da moda da cultura alternativa, não conhece os bares do momento, não entende os anúncios publicitários amontoados pelas paredes grafitadas e em ruínas. não entende como a vida na cidade se transformou num romance foleiro que leu há anos e que lhe pareceu ridículo e fútil.<br />pensando melhor procura ir para aquela cidade que encontrou há dois anos. não era mais bonita, não era menos cinzenta, talvez fosse mesmo quase igual ao que é hoje – mas ele era diferente e ele queria fixar-se apenas um momento mais naquela memória solitária onde ele teria menos dois anos de responsabilidades, menos dois anos de preocupações e angústias e mais dois anos de sonhos. </span></div>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-27366386473571114322009-05-29T21:45:00.001+01:002009-05-29T21:45:00.881+01:00dispensário<span style="font-family:trebuchet ms;">não conseguia parar. os livros espalhados eram obsoletos. as ideias saltitavam, fervendo os pensamentos. o conjunto dos sons era um ruído estranho e indigesto – pum pum as colheres de pau e os almofarizes tlim tlim os copos e os pratos pri pri chhh as tampas dos tachos… et voilá as especialidades. o gourmet, o clássico, o moderno, a fusão ou a cousine mondiale foram suprimidas pela originalidade. depois a inovação seria impossível. depois o caminho seria esse – por entre pratos até encontrar o lugar ideal para se manter viva, onde seria apreciada pela sua singularidade.<br /><br />sentou-se e arrumou todas as ideias em frascos. o sucesso, a criatividade, a inteligência, os impulsos ficaram arrumados no fundo da dispensa. Apenas ficou pairando um persistente e agradável cheiro a maçã. </span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-85135472087409019032009-05-15T19:13:00.001+01:002009-05-31T20:54:21.383+01:00ensaio<span style="font-family:trebuchet ms;">depois de chegarmos<br />nada mais há para acontecer.<br />descansaremos apenas<br />no tempo que nos resta.<br /><br />recordamos<br /><br />assim ancorados nas memórias<br />que pensávamos existir em nós<br />vamos ensaiando a despedida,<br />àqueles outros que um dia fomos,<br /><br />com tristeza.</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-5767303096740793642008-11-14T23:39:00.005+00:002008-11-14T23:47:47.652+00:00trilhos<span style="font-family:trebuchet ms;">desde o último passeio vai o tempo de uma gravidez. uma gravidez sombria e desagradável. talvez até podre.<br /><br />a sensação de que o tempo nos deixa é uma ilusão que serve de desculpa para tudo, sobretudo para o que se podia ter feito. permanece-se parado imaginando a infinitude. pasma-se com o passar das horas.<br /><br />será que haverão mais passeios ou os todos os caminhos foram trilhados?</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-36780785166679552692008-11-14T22:41:00.002+00:002008-11-14T22:45:08.768+00:00o branco ou o vazio ou a pressa<span style="font-family:trebuchet ms;">senta-se – à sua frente o espaço em branco, todo o espaço branco para escrever, preencher com palavras, com desenho, pinturas, números com ou sem sentido.<br />fica um pouco mais. o vazio do espaço não é mais do que o seu reflexo. Se conseguisse ao menos imaginar uma palavra, mesmo de duas letras só, seria o suficiente para que tudo recomeçasse.<br />nos últimos tempos tinha vivido um enxame de emoções. tomaram conta dele deixando-o num estado de euforia invulgar, as emoções rodopiaram zumbindo lá dentro e zombando da sua pressa. um dia desejou que queria ser, fazer, saber o mesmo que um sábio e velho homem. tinha medo que um dia já não houvesse tempo. tinha medo de ser confrontado com a (sua) vida e sentir-se perder. sabia que ia perder. a sua sede de sentidos e emoções complexas, inspiradoras, para a sua vontade de artista não concretizada, fora saciada. estava agora inerte e incapaz de reagir. naquele momento a ideia seria libertadora mas não acontecia. não conseguia exprimir-se. nem a dor que sentia tomava forma de letra. </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />a agonia do branco vai chegando devagarinho, esmagando-o.<br /></span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-6980972228070725252008-02-20T15:51:00.003+00:002008-02-20T16:06:53.379+00:00ontem, hoje e amanhã<span style="font-family:trebuchet ms;">admira-me ainda hoje como tempo me deixou.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">hoje dizem que já sou uma pessoa adulta. já não estudo unicamente mas também trabalho e recebo dinheiro por isso. umas vezes sorrio porque gosto do que fiz, outras inunda-me a revolta por ir contra mim na escolha que não foi escolha de um emprego que não se encontra com o desejo.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">a vida faz-se de casa para o emprego. os colegas falam dos filhos e do dia do seu casamento. sinto-me num livro de escrita e sentimentos light, mas também quem sou eu para julgar as vidas que se cruzaram comigo?</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">as pessoas morrem à minha frente sem piedade. e ali fico a vê-las deixarem uma vida de que há muito já desistiram. sinto-me inexperiente e impotente perante tudo.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">quero voltar. quero voltar para o passado mas ao mesmo tempo tenho os pés num sítio que me parece um futuro longínquo. os meus pensamentos ocupam-se sobre que frigorifíco será mais eficiente e mais barato, sinto-me vulgar.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">quase esmoreceu a vivência mais ou menos feliz dos dias. em que os sonhos me enchiam as ideias e este futuro era ainda mais distante.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;">luto diariamente para que seja diferente. mas sinto-me ser a pessoa que morre todos os dias um pouco mais, já sem esperança e capacidade de lutar contra "isto" que não quero e que me metastiza o corpo e alma como um tumor maligno e destrói toda aquela poesia.</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-33977403184749207002007-06-29T02:58:00.000+01:002007-06-29T02:59:27.271+01:00felicidade de PVC<span style="font-family:trebuchet ms;">é no amargo que sorrio. cansado já da facilidade dos dias. a facilidade do consumo de uma emoção rápida e instantânea, como se nada houvesse para além do instantâneo. apesar de tudo, o imediato é o que sabe melhor. achamo-nos bons, mesmo bons quando conseguimos rir quando todos riem… que pode haver mais que nos preencha?<br />cansado, estou cansado da pseudo-intelectualidade. do acreditar que noutro lugar será melhor, porque o nosso canto esgotou a novidade e porque aí todos os outros ficaram parados no tempo menos nós que entrevemos a possibilidade de evoluir noutro lugar… onde tudo será moderno e inovador.<br />a comida mastigada que me põem todos os dias no prato, enerva-me tal como a pressa com que me obrigam a comer e servem outro e outro e outro…em série. como se fossemos todos máquinas, com as mesmas necessidades, os mesmos gostos e ambições.<br />servem-nos a felicidade de PVC e todos sorriem – ou não fosse o melhor que nos podia acontecer!</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-63269306428102961612007-03-12T21:26:00.000+00:002007-03-12T20:27:21.182+00:00sal<span style="font-family:trebuchet ms;">o som dos fados chega-me arrastado.<br />recordo o dia da partida. um dia qualquer de Inverno que aconteceu sem se dar por isso.<br /><br />vagueio pela cidade que não me conhece. procuro as ruas estreitas tentando encontrar o mistério que sempre mora nesses sítios e que me fazem recordar…<br />conto-te, cidade, apenas por estar só.<br />a distância que prolonga a ausência mata-me por dentro. a palavra regresso é vaga e indeterminada. às vezes nunca se regressa de onde se partiu. Outras fica-se prisioneiro de para onde se partiu. o espaço que tinha guardado para a saudade vai-se perdendo. é este frio gelado que me torna pedra e destrói cada pedaço de quem fui. o tempo leva ao esquecimento e a vida quer negar-se nessa inexistência de emoção. <br /><br />o som da portuguesa guitarra desaparece a cada acorde, o sal das lágrimas sabe a mar – sabe a saudade.<br /><br /><strong>onda sonora:</strong> chuva - mariza</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-71255790748188541892007-02-18T09:24:00.000+00:002007-02-18T09:25:35.962+00:00ruína<span style="font-family:trebuchet ms;">a nota que apaga<br />a partitura que perde<br />o ritmo que descompassa<br />a casa que cai<br />a noite que chega<br />a destruição que acontece<br />o negro que pinta<br />a tristeza que morre<br />a solidão que renasce</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">a ruína que a ama</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-32553287261213404662007-02-08T15:55:00.000+00:002007-01-12T20:28:17.688+00:00despedida (em três actos)<span style="font-family:trebuchet ms;">1.<br />sobramo-nos já<br />gastámos todas as palavras<br />gastámos todos os amores<br />gastámos a diferença dos dias<br />gastámos os olhares e as descobertas<br /><br />2.<br />fazemos as malas<br />sem fotografias<br />não nos vamos encontrar<br />hoje não<br />amanhã também<br />vamos por ruas diferentes<br />à procura do adeus</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />3.<br />espero-te<br />naquele lugar perto do rio<br />já encontrei as asas livres<br />quero gastar todas as saudades<br />quero gastar todos os adeus<br />contigo</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-13336947904638744852007-01-12T19:17:00.000+00:002007-01-12T19:21:12.980+00:00o castelo<span style="font-family:trebuchet ms;">está já escuro. ao longe ouvem-se gritos guerreiros que o acordam. o cenário é sinistro. muitas árvores sem folhas. apesar da noite distingue os recortes dos ramos, encolhe-se dentro das roupas, com medo. as roupas que tem vestidas são estranhas. pertencem a outro tempo mas ao mesmo tempo aparentam uma certa modernidade que não lhe permitem dizer de que época são. não acredita em viagens no tempo. não sabe como foi ali parar. lembra-se vagamente de um museu. lembra-se de uma energia inegável de tão forte que se mantém agora na sua confusão.<br />os gritos parecem ser mais fortes, ao mesmo tempo parece ouvir sussurros atrás de um tronco robusto. quer investigar mas as pernas tremem-lhe. será que está mesmo noutro lugar? contudo alguns pormenores são-lhe familiares.<br />a custo rasteja para trás de um outro tronco e respira fundo. as vozes estão cada vez mais próximas. aproximam-se cavaleiros armados com lanças e com escudos. trazem tochas que iluminam aquele lugar. são cerca de dez. com eles vêm também uns vinte soldados. parecem discutir. talvez uma estratégia de ataque. não consegue perceber. pouco tempo depois são atacados por guerreiros que parecem estar deslocados de época, falam francês e vestem-se com as roupas do exercito francês no tempo de Napoleão.<br />deixa-se ficar escondido atrás da árvore. aparecem mais homens. ouve palavras em húngaro e alemão. alguns falam italiano. estes últimos parecem vir do inicio do século XIX. está cada vez mais aterrado. os homens gritam todos ao mesmo tempo. não se conseguem entender.<br />ninguém consegue encontrar o adversário certo. afinal estão todos do mesmo lado. mas em tempos diferentes. olham para as roupas uns dos outros e não encontram as armas equivalentes. uma lança e flechas, armas de fogo e guarda-chuvas que escondem setas envenenadas e livros não têm o mesmo peso. os homens olham-se boquiabertos. e ficam assim por muito tempo. sorriem e regressam ao castelo no cimo da colina. já é seguro regressar a casa. é seguro quando se fala em liberdade.<br />sai do esconderijo e tenta seguir os homens.<br />só se lembra de acordar dentro do castelo. está sozinho. levanta-se e sai pela porta que diz exit.</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-24678390642005118842007-01-04T19:46:00.000+00:002007-01-04T20:00:26.417+00:00<span style="font-family:trebuchet ms;">vou ter saudades dos assadores de castanhas...</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-36705302538170097552006-12-28T10:02:00.000+00:002006-12-28T10:06:24.476+00:00o corpo<span style="font-family:trebuchet ms;">deixa-se ficar sobre a cama. o corpo nu e frio, enrolado sobre si mesmo. os olhos fechados. as lágrimas inundam-lhe o rosto. está assim há muito tempo, impossível precisar desde quando. a janela entreaberta deixa entrar o vento quase glacial. um corpo quase morto. à sua volta tudo está impecavelmente arrumado. nada está fora do sítio. até os lençóis da cama estão esticados, como se o corpo ali tivesse sido depositado.<br />é um quadro surrealista. uma fotografia contemporânea, uma coisa moderna.<br />o corpo imóvel, cada vez mais se mistura com a brancura do cenário. lá fora começa a nevar.<br /><br /><em>chega mais tarde que o costume. pensou ter perdido a chave. e não estava preparado para a neve. sem saber porque sentia-se impedido de chegar. e sabia ser preciso chegar quanto antes. não consegue entender a diferença de hoje e de todos os outros dias. chama. ninguém vem. a solidão entranha-se sem se dar conta. percorre a casa e deixa a angustia instalar-se. pára à porta do quarto e entra devagar. como se este fosse o ultimo momento. o ultimo de todos. o corpo sobre a cama parece-lhe de um azul celeste: impossível. sem se conseguir apressar, aproxima-se. lentamente toca-lhe os olhos e limpa s lágrimas ainda molhadas. beija-lhe a face salgada. pensa ver um sorriso, mas talvez tenha sido o medo.<br />levanta-se para fechar a janela aberta. recuperando a agilidade dos movimentos – despe-se, deita-se ao lado do corpo adormecido e abraça-o, como se o calor do seu corpo fosse a única arma contra o fim.<br /><br /></em>o calor do outro: a inquietação, o medo da perda, da dor...fazem aparecer um sorriso tímido. um beijo e outro. palavras sussurradas pedem-lhe que fique. pedem que sorria. um beijo e mais outro. e o abraço que permanece. os murmúrios são agora mais audíveis. prometem-lhe ajuda para sair da tristeza para que se evadiu. o corpo começa a ficar morno e menos adormecido.<br />sem certeza entreabre os olhos, com dificuldade. devolve o sorriso, um sorriso pequenino. um beijo. uma lágrima mais. promete ficar pelo menos até amanhã. e o abraço que permanece.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"><strong>onda sonora:</strong> song for a blue hearth - the gift</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-8484225615178663112006-12-03T23:46:00.000+00:002006-12-04T21:17:04.741+00:00o astrónomo<span style="font-family:trebuchet ms;">morava numas águas-furtadas, num prédio velho numa zona antiga, já nos arredores da grande cidade. aborrecia-o a azáfama da cidade. todos os dias pensava em mudar-se para o interior, um lugar mais silencioso como lhe convinha.<br />lembrava-se vagamente de se sentir em casa. por vezes apareciam-lhe no pensamento palavras a que não conseguia atribuir significado, mas que lhe aqueciam o coração, lembrava-se de adormecer a ouvi-las... talvez fossem a sua língua mãe, uma língua desaparecida, talvez mesmo já morta. talvez não.<br />onde estariam os seus irmãos? onde estariam aqueles que falavam a sua língua? lembrava-se de sentir qualquer coisa especial quando olhava uma flor ou um pequeno pássaro a aprender a voar! na cidade nem havia vida para além dos homens.<br />o anoitecer era sempre um privilégio. no seu pequeno terraço, montava o telescópio, cuidadosamente guardado. procurava estrelas quase ao acaso. gostava de as encontrar, de se surpreender com as pequenas viagens estelares. sorria timidamente, não duraria até amanhã. e quem se iria importar com um astrónomo que procurava a beleza das coisas pequeninas? aconchegava-se com o cobertor já de estrelas apagadas e deixava-se ficar a chorar baixinho. procurava em si o sentimento especial que o encantava quando era criança (se alguma vez o fora), quando abraçava árvores, quando abraçava…não conseguia lembrar-se…<br />restava-lhe adormecer sonhando com outras galáxias, fora da cidade coberta de fuligem – decerto que numa delas estariam os seus irmãos. e o seu telescópio iria encontrá-los.</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-1165186251245783002006-12-03T22:46:00.000+00:002006-12-03T22:50:51.260+00:00fairy, a caixa de música<span style="font-family:trebuchet ms;">era laranja. nunca se havia visto nenhuma assim. conservava o seu brilho, apesar dos anos. pretendia alcançar a perenidade tal pedra filosofal. mas era uma mera caixa de madeira, sem qualquer adorno que a distinguisse de uma vulgar caixa de madeira. apenas a sua cor se insinuava. na tampa, em letras minúsculas, podia ler-se “fairy”, palavra sem qualquer significado.<br />lá dentro não habitava uma bailarina, mas sim um pequeno catavento – rodopiante, que girava ao som da música. se olhássemos com atenção conseguíamos ver um mundo louco e desordenado, como se uma dimensão paralela existisse simultaneamente. aterrador e fascinante.<br />poderia pensar-se que esta caixa era muito cobiçada…quem não desejaria ir até à ampliação máxima da sua imaginação? porém a pequena caixa jaz caída num sótão poeirento. nunca foi descoberto o mistério da passagem secreta que encerra. conto-vos agora: basta abrir a caixa, fechar os olhos e encontrar um tempo para se poder acreditar na fada. ela virá ao nosso encontro para nos levar, mas só se estivermos dispostos a apreciar a viagem. só se pretendermos abdicar do supérfluo visível para podermos descer às obscuras ou brilhantes profundezas, daquele que se afigura o nosso abismo.<br /><br /><strong> onda sonora:</strong> colleen – the golden morning breaks</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-1161684899616936442006-10-24T11:14:00.000+01:002006-10-24T11:14:59.620+01:00amor-te II<span style="font-family:trebuchet ms;">vejo-te chegar. esperam-te as paredes brancas, despidas e frias de um quarto igual a todos os outros. expressão indiferente. não sei se em paz ou aterrorizado. acho que nunca o poderei dizer.<br />procuro recordar o dia em que chegaste. quero lembrar-me… falei um pouco contigo, expliquei-te o habitual, as rotinas e sorri-te, um sorriso aberto… ainda hoje não compreendo porque o fiz. o sorriso não me confortaria, mas dei-to à mesma sem que mo pedisses. tinhas apenas 53 anos, talvez 41 ou 32, quem sabe? é difícil recordar idade, sobretudo quando se sabe apenas, que é a última.<br />ficaste no quarto do fundo, o mais sossegado. de manhã podias ouvir os pássaros e contemplar o nascer do sol. parecia agradável. todos te tratavam “bem”. tu nunca dizias nada. nunca. dizia-se que tinhas emudecido, que esse mutismo se devia à revolta interior que vivia em ti.<br />visitava-te muitas vezes, mesmo quando não era eu responsável pelo teu cuidado. deixei de te sorrir e falar também. toleravas-me. acho que não me mandavas embora para não me magoares. tu sabias bem que o brilho dos teus olhos, que se mantinha aceso, me fazia gostar de ti, muito. eu sabia que não querias que sofresse.<br />chorei no dia em que partiste, não sei para onde foste. nessa manhã, estendeste-me a tua mão esguia e magra. eu dei-te a minha e ali fiquei até que me disseste “obrigado”.<br />os teus olhos estavam já fechados quando cheguei, à tarde. estava um fotógrafo a procurar-te uma expressão da tua dignidade, disse-me ele. e eu fiquei mais um momento, em silêncio como tu. não consegui abandonar-te, assim.<br /><br />não conheci a tua angústia o que ainda hoje me perturba.<br />entro agora no teu quarto e sorrio, recordando a tua mão fria que apertou a minha naquele dia: de brilho nos olhos e de alma perdida. </span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"><em>(depois de "amor-te")</em></span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-1161684827377712512006-10-24T11:12:00.000+01:002006-10-24T11:15:52.146+01:00amor-te I<span style="font-family:trebuchet ms;">de que cor são os teus olhos<br />antes negros?<br />de que sal são as tuas lágrimas<br />que vão secando?<br />de que luz nascem os cabelos<br />que ainda te iluminam?<br />de que morte falas nesse amor<br />que me contaste?<br />de que amor se conforta o teu coração<br />que já não bate?<br />é de amor-te que vem um sopro<br />para te levar.</span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"></span><br /><span style="font-family:Trebuchet MS;"><em>(depois de "amor-te")</em></span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-1159462701645938362006-09-28T17:57:00.000+01:002006-09-29T18:00:57.670+01:00dazibao*<span style="font-family:trebuchet ms;">o tempo está a esgotar-se, apesar de ser cada vez maior. todos os dias lhe apetece querer correr até à parede azul, onde já se encontram outros artigos, outros pequenos fragmentos de vidas diferentes e distantes no entanto, procura conter-se.<br /><br />diz-se daquela parede, que é pública, mas a privacidade parece querer roubar-lhe a designação e afirma-se num crescendo imperturbável. a censura procura diariamente o autor dos delitos, traduzidos em palavras inocentes, ou não. os papéis são também azuis, vendem-se correntemente em qualquer papelaria; melhor, em todos os estabelecimentos comerciais de todos os lugares. soube esconder-se, apenas o suficiente para não ser descoberto.<br />todos os excertos publicados são apátridas: não vêm da terra da certeza, nem da da incerteza, não vêm da terra do concreto nem da do abstracto, nem da terra do imaginário nem da da realidade, ao mesmo tempo, parecem chegar um pouco de cada uma delas.<br />de quando em vez nascem perguntas, outras vezes afirmações e nascem respostas e diálogos a partir de tanta coisa e de coisa nenhuma.<br />alguém escreve sobre catavento, a censura desconfia…contudo, catavento é qualquer coisa em via de extinção (já nem se sabe bem se é um objecto ou um animal, uma cidade ou um produto químico), na era da informação sempre segura e da segurança firme na escolha (?) de caminhos - o mesmo seria falar de ninguém.<br /><br />a ele apetece-lhe escrever e escrever-se. não se livra daquela conotação autobiográfica que lhe define o estilo das prosas e das poesias. hoje, 25 de setembro, não irá até lá, à parede, como a vontade lhe manda, deixar-se-á ficar inerte. talvez mais tarde gostasse de escrever para comemorar. mas comemorar as tristezas e as alegrias de si mesmo, comemorar a indiferença e o desinteresse? mais uma vez não é feliz a encontrar justificações plausíveis e coerentes. pensa nunca se ter arriscado por si. os polícias andam por aí e hoje a censura atribui penas pesadas aos infractores. escreveu esperando a discussão, esperando a crítica, esperando algum amor pelas palavras e as emoções e sentimentos de desconhecidos. esperou encontrar novas perspectivas e novos trilhos. sonhou até com discussões acesas, fóruns abertos e muita partilha, mas não. começa acreditar na ilusão.<br />agora pensa se valerá a pena? não será tudo isto um exercício egocêntrico de se mostrar? não será tudo isto mais um capricho, uma vaidade dos seus idealismos? mais uma chamada de atenção, o acender uma luz sobre a sua existência?<br />o tempo é cada vez maior mas esgota-se célere. não resiste e corre até à parede. cola outro escrito de si. amanhã será diferente: talvez a censura o apanhe ou as forças que o animam, essas esperanças de que o sonho se realize se sumam.<br /><br />a parede azul está cada vez mais vazia e em breve será derrubada.<br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">*dazibao é um jornal de parede, tendo sido muito utilizado como instrumento de agitação ideológica no período de revolução maoísta.</span></span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-1158184217601695212006-09-13T22:48:00.000+01:002006-09-13T22:50:17.613+01:00o lugar dos ciprestes<span style="font-family:trebuchet ms;">as pessoas de semblante vestido de preto acabam por tingir as suas roupas de tonalidades semelhantes. o cortejo lento até aos ciprestes traz a incerteza: o tempo parou? ou estamos perante um compasso mudo?, uma pausa maior que semibreve?<br />chove. o cenário lembra um filme americano.<br />o silêncio não se impõe; é, antes, inevitavelmente interrompido por palavras vazias ou religiosas, nenhuma delas com sentido. naquela casa, o silêncio trazer-nos-ia decerto as lembranças do passado feliz. saberíamos sorrir e não lamentar. saberíamos apreciar e ser capazes de viver amanhã. os rostos choram, as bocas falam, numa tentativa de preencher as acções e os momentos que não aconteceram, de calar a voz interior que sussura que, hoje é já demasiado tarde para as recordações, impossibilitadas de se construírem depois.<br />é uma farsa, um teatro, talvez possa mesmo ser um exorcismo da culpa incómoda, que se instala e que cresce com o tempo (e a que se atribuí o nome de saudade, erradamente, para se prosseguir descansado).<br /><br />a etapa dos ciprestes haveria de chegar natural e necessária como sempre, conferindo um sentido ou um fio condutor, para ti e para nós. Pergunto-me se este será o último capítulo ou apenas mais um entre tantos. Qualquer das duas hipóteses me conforta.<br />desta vez, nem sequer me interessa discutir as causas. nem sequer me interessa que pensem que estou louca por não desejar uma continuidade (ainda que triste e desesperada) mantida por uma medicina avançada, em lugar de uma paz merecida e serena (ainda que dolorosa para todos).<br />ouço as palavras do sacerdote, de que discordo na sua maioria, muito distante dali. estou ocupada a pensar em colares de pinhões e ameixas saborosas que apanhava quando tinha quatro anos, “como será possível viajar até tão longe?”. dou por mim a acenar sem querer quando concordo com aquela vontade de ser melhor hoje já. será que alguém o ouviu? ou o eco é um resultado do medo de não parecer bem?<br />os olhares indiscretos condenam-me a ser pedra: dura, fria e intacta. será que ninguém vê as marcas da erosão? será que não sentem o calor do meu corpo, que nem a chuva e o vento fazem desaparecer? contudo é na pedra que todos se apoiam, ignorando a superfície em transformação. alguém reconhece alguma vida por ali, um alguém singular e demasiado perspicaz.<br />às vezes dói-me esta diferença, por ser difícil, mas já não consigo fingir o que não sinto e também já não me importa.<br /><br />choveu o suficiente, por mim. só senti falta daquela graça que dizias quando me vinhas visitar. essa ninguém quis recordar.<br />um destes dias, sei que vou visitar o lugar do cipreste, talvez uma vez por ano, como manda uma tradição qualquer e nem vais reparar. onde quer que seja a próxima casa, mesmo que seja infinitamente longe, a luz vai apenas acender em ti, quando eu me lembrar das ameixas e dos pinhões.<br /><br />não queria estar ali e hoje teve de ser.</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-17111209.post-1157151931351953592006-09-02T00:04:00.000+01:002006-09-02T00:05:31.390+01:00as árvores morrem de pé<span style="font-family:trebuchet ms;">castanho claro é a cor da terra que rodeia e acentua o contraste dos paus nus e negros, que vejo da janela do carro em andamento.<br />ali, à distância de uns pequenos passos, estão os corpos de quem já foi gente. não se pára, não se abranda, nada. não há tempo sequer para contemplar. e talvez seja melhor assim. não se sai impune desse contacto. não se permanece incólume ao confronto com o fim.<br />o espectáculo encena-se amargo. os troncos gigantes assumem a sua posição póstuma. altivos, desprezam a devastação a que foram condenados. abraço-os com o olhar, estupidamente, pensando poder amparar qualquer coisa. rapidamente me rendo à pequenez perante aqueles que, impossibilitados de se refugiarem noutro local, se deixam ficar ao sabor do vento, morrendo de pé, ignorando os olhares indiferentes e a destruição imerecida.</span>cataventohttp://www.blogger.com/profile/03439056292373711598noreply@blogger.com1