quarta-feira, fevereiro 20, 2008

ontem, hoje e amanhã

admira-me ainda hoje como tempo me deixou.

hoje dizem que já sou uma pessoa adulta. já não estudo unicamente mas também trabalho e recebo dinheiro por isso. umas vezes sorrio porque gosto do que fiz, outras inunda-me a revolta por ir contra mim na escolha que não foi escolha de um emprego que não se encontra com o desejo.

a vida faz-se de casa para o emprego. os colegas falam dos filhos e do dia do seu casamento. sinto-me num livro de escrita e sentimentos light, mas também quem sou eu para julgar as vidas que se cruzaram comigo?

as pessoas morrem à minha frente sem piedade. e ali fico a vê-las deixarem uma vida de que há muito já desistiram. sinto-me inexperiente e impotente perante tudo.

quero voltar. quero voltar para o passado mas ao mesmo tempo tenho os pés num sítio que me parece um futuro longínquo. os meus pensamentos ocupam-se sobre que frigorifíco será mais eficiente e mais barato, sinto-me vulgar.

quase esmoreceu a vivência mais ou menos feliz dos dias. em que os sonhos me enchiam as ideias e este futuro era ainda mais distante.

luto diariamente para que seja diferente. mas sinto-me ser a pessoa que morre todos os dias um pouco mais, já sem esperança e capacidade de lutar contra "isto" que não quero e que me metastiza o corpo e alma como um tumor maligno e destrói toda aquela poesia.

4 comentários:

mag disse...

é assim ser crescida?
é ter lugar para o génio em regime de excepção?

*m

(curtos e apreciados regressos da poesia)

Anónimo disse...

Adorei bee. Talvez porque sinta muito disso. Quando muito do que mais gostamos em nós parece que se apaga, por este ou por aquele motivo...
Irredutivelmente, penso sempre, que haverá um cantinho de nos que se manterá saudavel, com pingos da fonte da juventude ou da vida eterna. e lá moram a poesia...a música, os sentimentos...essas coisas...

Beijo muito muito doce

Sempre,

Sónia

AR disse...

Afinal crescer é uma pedra dura de roer. Até mesmo de furar. Finalmente. Pensei que isto estivesse "morto". Pensei que não ia ter mais pedaços de um mundo de um catavento. Parece que me enganei, e ainda bem.
Como é que faço para ter mais?Basta pedir?

Finalmente!

catavento disse...

caros leitores e queridos amigos...
não posso deixar de comentar os vossos comentários de forma pessoal!

de facto, sinto a falta disto, deste espaço que me faz criar e reflectir e enriquece uma partilha de textos que mais não seja entre estes amigos e bloggers que vocês são.

enerva-me a escassez do tempo - não me sobra para escrever nem para estar realmente convosco. nem sequer sobra para me encontrar nestes blogues quase cafés em que cruzamos conversas deliciosas. sempre me revi na escrita, sempre me partilhei mais expressando-me em palavras do que com quaisquer outros gestos e sempre me perguntei por vossa causa os porquês de tanta coisa.

não prefiro aqui à vossa presença. mas é certo que não queria prescindir deste meu pequenininino espacinho. mas sabem a cabeça esgota-se nos pensamentos, aquele vazio de ideia de palavras, que de vez em quando nos acontece. este vazio ainda dura mas esmorece, o cansaço de um ano louco de trabalho e de um outro de novas e (tristes e felizes) descobertas deixam-nos exaustos na luta do contra-corrente - num esforço para evitar aquilo que sempre nos quisemos recusar a ser!

fazem-me bem vocês e as vossas palavras. talvez sejam mesmo o incentivo que me tem vindo a acordar para um regresso sereno.

obrigada,

acho que devo um café a todos vocês...