sexta-feira, novembro 14, 2008

trilhos

desde o último passeio vai o tempo de uma gravidez. uma gravidez sombria e desagradável. talvez até podre.

a sensação de que o tempo nos deixa é uma ilusão que serve de desculpa para tudo, sobretudo para o que se podia ter feito. permanece-se parado imaginando a infinitude. pasma-se com o passar das horas.

será que haverão mais passeios ou os todos os caminhos foram trilhados?

o branco ou o vazio ou a pressa

senta-se – à sua frente o espaço em branco, todo o espaço branco para escrever, preencher com palavras, com desenho, pinturas, números com ou sem sentido.
fica um pouco mais. o vazio do espaço não é mais do que o seu reflexo. Se conseguisse ao menos imaginar uma palavra, mesmo de duas letras só, seria o suficiente para que tudo recomeçasse.
nos últimos tempos tinha vivido um enxame de emoções. tomaram conta dele deixando-o num estado de euforia invulgar, as emoções rodopiaram zumbindo lá dentro e zombando da sua pressa. um dia desejou que queria ser, fazer, saber o mesmo que um sábio e velho homem. tinha medo que um dia já não houvesse tempo. tinha medo de ser confrontado com a (sua) vida e sentir-se perder. sabia que ia perder. a sua sede de sentidos e emoções complexas, inspiradoras, para a sua vontade de artista não concretizada, fora saciada. estava agora inerte e incapaz de reagir. naquele momento a ideia seria libertadora mas não acontecia. não conseguia exprimir-se. nem a dor que sentia tomava forma de letra.


a agonia do branco vai chegando devagarinho, esmagando-o.