segunda-feira, janeiro 09, 2006

salvar uma vida

tens de viver. aconteça o que acontecer, se viveres é porque nós conseguimos salvar-te a vida. é porque nós fizemos a nossa missão. não te deixámos ir. e é isso que está certo, salvar a vida, a todo o custo.
provavelmente nunca saberás quem és. não te moverás. não falarás. não aprenderás. e nós raramente chegaremos a ti, porque não temos tempo, porque não sabemos como, porque isso já não é importante, porque tu apenas tinhas de ser salva.
não podes comer, nunca soubeste... só te é permitido descobrir que metade de ti existe, porque a outra já foi esquecida antes de a poderes conhecer. não podes andar ou correr. o teu coração bate quase sem força, a tua respiração é lenta, estás quase imóvel. sofres mas não choras. para quê? sabes já que não vale a pena porque ninguém correrá para te abraçar. mas se a máquina apitar correrão para te salvar de novo.
embalo-te e tento dar-te o carinho que não tiveste. adormeces. és tão bonita.
e nesse momento desejo que o que chegará em breve chegue mais cedo do que os salvadores pensam. não consigo suportar essa ideia egoísta de salvar - salvar o que morreu, salvar para doer, salvar para matar. isso é salvar? salvar é prender-te a este mundo onde nunca poderás ir a lugar algum?
vai agora, ninguém vai reparar e eu não direi nada a ninguém. guardarei o teu segredo em mim pois nunca houve nada tão celeste como tu.

para ti

para ti
tenho silêncio
para ti
tenho solidão
para ti
tenho liberdade
para ti
tenho diferença
para ti
tenho paz
para ti
tenho amizade
para ti
tenho amor
para ti
tenho palavras
para ti
terei perfeição.