segunda-feira, dezembro 19, 2005

o teu mês

este era o teu mês. lembro-me do segredo com que preparavas esta época. fingias sempre que naquele ano não haveria mais surpresas. fazias até questão de o anunciar. nós acreditávamos e surpreendíamo-nos sempre, incrédulos por mais uma vez termos pensado que o ano anterior tinha sido o último.
talvez tenha sido por isso, que não acreditei que ias partir (disseste-mo tantas vezes; estavas sempre a dizer que agora terias mais tempo para ti, para viajares) ou tal vez tenha sido a dor que me causava saber que já estava a acontecer. ainda hoje não acredito que me deixaste. gostava tanto de te ter aqui. tenho tanto para te dizer.
sirvo-me deste papel para nada, eu sei, mas parece-me ver-te em qualquer lugar a aproximar-te de mim...pode ser que me leias, pode ser que me encontres.
sabes, já há muito que as fotografias se esvaziaram de ti. mas as flores, os pequenos gestos, as palavras, os espaços estão-me sempre a recordar-te. onde estarás agora?
entro na tua casa na esperança que tenhas regressado, àquele que era o meu abrigo (sempre foi mais meu). já não há mais o refúgio, já não há mais o calor, já não há mais a música, já não há mais a vida. cada vez é mais distante este sítio. cada vez é menos teu. e só emerge, para me acompanhar, o confronto com a certeza irrefutável que nada mais há a fazer.
sinto-me diminuir. poderia ser alice mas não no país das maravilhas. já terminaram todas as histórias de encantar. agora já ninguém mas conta (só tu sabias tão bem). os sonhos acabaram e só me resta Isto...Isto que magoa, que faz sofrer, que faz chorar, que faz morrer...
e porquê? porque tinha de ser assim? não foi este o caminho que escolhemos para nós?
continuo à espera que me surpreendas de novo.


preciso do teu abraço. tanto*

onda sonora: for martha - the smashing pumpkins

3 comentários:

Anónimo disse...

esta tao bonito bee.. tao comovedor (por muito que a palavra seja pirosa, paciencia).
as vezes as pessoas so reconhecem o valor das coisas quando as perdem.. eu sei que amas(te) enquanto existia a presença desse alguem. e que era bonito.. e necessario.
as pessoas fazem-nos falta.don't they? *bjs

Anónimo disse...

há pessoas que morrem, outras que morrem para sempre, e há aquelas pessoas que so morrem quando nós deixarmos.
gostei.
=)

Anónimo disse...

Acredito em agradecimentos e em gratidão. Talvez seja por isso que aprecio muito a generosidade sem limites que lanças-te, ao escrever estas palavras.
E, Bee, as histórias de encantar só terminam se deixarmos...assim como os sonhos...Talvez, se quiseres, poderemos ler juntas...sonhar...já o fazemos*

Um beijo radioso como o sol

Sónia