sábado, agosto 26, 2006

música de cobertor

escolho o CD de sempre, na estante. encontro-o à primeira, sem hesitação. ligo a aparelhagem e espero serenamente. adivinho as primeiras notas (que pensava saber de cor). depois de tanto tempo ausente, a surpresa encontra-me distraído. deixo as músicas fluir, como se nada mais houvesse para fazer. canção após canção, a admiração vai-se entranhando. agora compreendo o significado deste tempo em que não estive. a transformação não se abandona, permanece, e também em mim se deixa ficar. os versos crescem na beleza, as melodias no poder.
escolhi-o, por hoje, mais que nunca, ser inverno. um inverno que aparece de quando em vez ,sem se esperar, que se ri dos 40º do termómetro.
procuro o cobertor que sempre acompanha aquelas notas - um abrigo que me conforte com o seu calor. ouço a minha história, desapaixonante, contada pela prisioneira desconhecida na rodela prateada e rosa. espero que me leve até depois do quarto verde. "leva-me para que eu encarne o sorriso ténue e breve, que talvez me tenha sido prometido."
a noite alcança a madrugada. a voz insiste, perguntando-me como será amanhã. quero responder, fingir certezas para ter um lugar nessa viagem.
desesperado, pelo medo que não me desabita, puxo mais o cobertor e fico imóvel. lentamente fecho os olhos e entrevejo uma janela aberta e um cobertor que dança ao som daquela tua voz, inconfundível.

1 comentário:

AR disse...

Música será sempre música...
Será a musica da chuva, quando vemos as luzes dos carros contrários...
Será música do sol, quando a areia nos entra nos ouvidos até impedir a propagação do som..
Será a música do amor, de tons escarlate...
Será a música da tristeza, onde não sabemos se é escarlate ou um azul escuro que ouvimos...
Esta é a música de...cobertor...
Gosto quando escreevs assim!