sábado, agosto 26, 2006

o plural da memória exacta

tenho de te escrever hoje. registar tudo para não me iludir no futuro, de como foi. quero-te como agora foste, assim. descrever o teu sorriso, simpático, encantador, que mostra o teu dente meio partido, que te dá graça. e os teus olhos que com ele se combinam, para dizerem que sim, que estão felizes, revestindo-se de um brilho inexplicável.

quero-te escrito hoje, momento. recordar todas as palavras - sobretudo aquelas que não se disseram e se poderiam ter dito, e aquelas outras que foram ditas, sem se dar conta.

hoje, vou escrever, actos – a exactidão dos encontros. os factos na sua verdadeira ordem, na que aconteceram realmente. vou ignorar fantasias supérfluas e ilusões enganadoras. tudo será precisado.

escrevo-te agora que já não estás. e agora, apesar de já, o tempo já foi demasiado longo. o sorriso compõem-se altivo, a poeira das palavras que se guardaram e não se disseram desaparece, surgem significados absolutos para os actos, razões indiscutíveis para os encontros, os olhares foram, afinal óbvios e a ordem dos acontecimentos evidente.

amanhã, escreverei de novo. sei que porei uma vírgula para me encontrar e um ponto final para evitar a tristeza. nunca será difícil recordar se tudo escrever.

a lembrança estará sempre à minha espera, sem se importar com os olhos que levo para a contemplar.

3 comentários:

mag disse...

hey.. =)
escrevemos hoje para que a memória não se altere, não oculte nem acrescente aos momentos as sombras ou as euforias que o tempo lhes tende a somar. as palavras são as de agora e recordarão sempre a alegria, mesmo que os olhos que venham depois sejam de desamparo ou triteza. importa que hoje estejamos felizes e nos recordemos assim.
as virgulas para que se repita as emoções, para que faça sentido. os pontos finais para deixar claro que assim foi. que assim se sentiu.

a memória nem sempre é idonea para este tipo de coisas..!
*um beso.m

catavento disse...

that's the point! é mesmo isso (ou não fosses tu a luzinha filósofa nesse dia).

importa que hoje estejamos felizes e que saibamos ser felizes no futuro, sabendo os limites das realidades e ilusões, ou melhor colocando-os num ponto que nos permita sobreviver amanhã.

Anónimo disse...

muito bom bee* transcendes-te a cada dia. adoro o tom de esperança. o tom que nucna vais perder. eu sei, porque eu também nunca a vou perder..e nisso , como em tantas outras coisas, somos iguais.

Um beijo cheio de doçura*