sábado, setembro 02, 2006

as árvores morrem de pé

castanho claro é a cor da terra que rodeia e acentua o contraste dos paus nus e negros, que vejo da janela do carro em andamento.
ali, à distância de uns pequenos passos, estão os corpos de quem já foi gente. não se pára, não se abranda, nada. não há tempo sequer para contemplar. e talvez seja melhor assim. não se sai impune desse contacto. não se permanece incólume ao confronto com o fim.
o espectáculo encena-se amargo. os troncos gigantes assumem a sua posição póstuma. altivos, desprezam a devastação a que foram condenados. abraço-os com o olhar, estupidamente, pensando poder amparar qualquer coisa. rapidamente me rendo à pequenez perante aqueles que, impossibilitados de se refugiarem noutro local, se deixam ficar ao sabor do vento, morrendo de pé, ignorando os olhares indiferentes e a destruição imerecida.

1 comentário:

mag disse...

excelente texto bee.
o mais gritante num cenário destes é mesmo a impossibilidade de fazer algo por ele. quase nos sentimos culpados da nossa impotencia. envergonhados por sequer olharmos aquele destino altivo das arvores negras.
amargo. a fraqueza na força das arvores. a ironia num momento volatil. indigno.

*beijo