domingo, dezembro 03, 2006

fairy, a caixa de música

era laranja. nunca se havia visto nenhuma assim. conservava o seu brilho, apesar dos anos. pretendia alcançar a perenidade tal pedra filosofal. mas era uma mera caixa de madeira, sem qualquer adorno que a distinguisse de uma vulgar caixa de madeira. apenas a sua cor se insinuava. na tampa, em letras minúsculas, podia ler-se “fairy”, palavra sem qualquer significado.
lá dentro não habitava uma bailarina, mas sim um pequeno catavento – rodopiante, que girava ao som da música. se olhássemos com atenção conseguíamos ver um mundo louco e desordenado, como se uma dimensão paralela existisse simultaneamente. aterrador e fascinante.
poderia pensar-se que esta caixa era muito cobiçada…quem não desejaria ir até à ampliação máxima da sua imaginação? porém a pequena caixa jaz caída num sótão poeirento. nunca foi descoberto o mistério da passagem secreta que encerra. conto-vos agora: basta abrir a caixa, fechar os olhos e encontrar um tempo para se poder acreditar na fada. ela virá ao nosso encontro para nos levar, mas só se estivermos dispostos a apreciar a viagem. só se pretendermos abdicar do supérfluo visível para podermos descer às obscuras ou brilhantes profundezas, daquele que se afigura o nosso abismo.

onda sonora: colleen – the golden morning breaks

3 comentários:

Mário disse...

Céptico, o cientista põe em causa os seus próprios princípios e estaca, firme e de olhos fechados, em frente à caixa laranja. Algures dentro de si, sabia (queria?) que algo acontecesse. Queria acreditar naquela caixa, queria ter direito à dose de magia que julgava pertencer à sua vida, mas que nunca havia encontrado. E aguardava paciente a vinda de alguma fada ou de algo que o arrebatasse, que o fizesse acreditar...mas nada chegou, nenhuma fada ou brisa estranha fez girar o cata-vento, que permaneceu imóvel e inerte ao respirar empoeirado do cientista. Triste, fecha a caixa de música laranja, sem música e sem magia, para descer à realidade.
Não era tempo. A magia chegará...

Mário*

catavento disse...

a caixa de musica existe na realidade. o olhar que lhe é lançado é que faz a diferença. se o que faltará ao cientista?

*

AR disse...

"quem não desejaria ir até à ampliação máxima da sua imaginação?"...só consigo sorrir, timidamente, a algo escrito asssim.A caixa...essa..tantas outras "caixas"...

PS - não conheço a música, parece que tenho de ir investigar...