sábado, outubro 29, 2005

desaparecidos

a ficção nunca é inventada. é sempre o reflexo de uma realidade qualquer. nós é que ainda não tivemos oportunidade de a conhecer.

não pensei em tomar para mim a tua angústia. esse nó interior. a constatação de que tudo o que fizesse seria invisível, indiferente, totalmente irrelevante embora nos tivessemos convencido que acreditavamos que desta vez seria diferente.
os dias passam. hoje poderia ser ontem ou amanhã. todos os dias se confundem, só é possível distingui-los pelo desespero maior que nos domina.
se pudesse daria os gritos que não deste, choraria as lágrimas que não choraste, faria a justiça... talvez mais num ímpeto egoísta de me libertar da tua verdade e deste desconforto que não se explica.
sempre que penso em ti, regresso àquela dor. sim, dor.

agradeço-te pelo amor que me dedicaste. sei que nunca me abandonaste mas os teus cães de papel esgotaram-se. (tu também te esgotaste, não te poderia exigir mais do que foste) talvez não pudesse ser encontrada. e agora foste tu que desapareceste, morreste. sabia que irias morrer. a tua vida era feita de procurar-me. as evidências levaram-te a julgar-me impossível.
passou muito tempo desde a última vez que nos abraçámos.
vivo pela recordação do teu amor.já nem recordo o teu rosto.

(depois de "alice")

1 comentário:

Anónimo disse...

Não consigo ler tudo o que escreves Bee. Tento, tento, mas a meio surge-me um nó na garganta que me impede de concentrar. Intenso e profundo. Leio e não leio.

Beijo cheio de admiração

Espiral